Dicas de 4 patas

Como lidar com o comportamento destrutivo de cães e gatos

Ter um pet em casa é uma experiência enriquecedora, mas também pode trazer desafios inesperados — e entre eles, talvez um dos mais estressantes para o tutor seja lidar com o comportamento destrutivo. Sofás rasgados, chinelos mordidos, vasos quebrados e arranhões em móveis são alguns dos sinais mais comuns. Diante disso, é natural sentir frustração. No entanto, interpretar esse comportamento como “pirraça” ou “rebeldia” do animal não é apenas incorreto, mas também contraproducente.

Cães e gatos não destroem por maldade. Quando um animal apresenta comportamento destrutivo, ele está, na verdade, tentando lidar com algum desconforto — físico, emocional ou ambiental. A destruição, por mais incômoda que seja, é uma forma de expressão. E por isso, precisa ser compreendida, não reprimida com broncas ou punições.

O que está por trás da destruição?

A origem do comportamento destrutivo pode variar conforme o temperamento do animal, sua idade, rotina e estímulos diários. Filhotes, por exemplo, costumam destruir objetos como parte natural do seu desenvolvimento. Para eles, morder é uma forma de explorar o mundo e aliviar o incômodo da troca de dentes. Ignorar essa necessidade natural pode levar o tutor a puni-los injustamente por um comportamento inevitável.

Já em cães adultos, a destruição geralmente está associada a fatores emocionais, como ansiedade, solidão ou estresse. Muitos animais ficam longas horas sozinhos, com pouca ou nenhuma estimulação física e mental. Sem passeios, desafios ou interações, a energia acumulada encontra uma válvula de escape na destruição.

Gatos, por sua vez, são animais altamente sensíveis ao ambiente. Arranhar móveis, subir em lugares proibidos, derrubar objetos e roer plantas são atitudes que, para eles, têm funções específicas. O arranhão, por exemplo, serve para marcar território, alongar o corpo e afiar as garras. A falta de alternativas adequadas para cumprir essas funções naturais transforma o gato em um “vilão” injustiçado dentro da própria casa.

Ambientes que provocam frustração

É comum tutores subestimarem o quanto o ambiente influencia no comportamento dos pets. Uma casa sem estímulos, sem espaço para movimentação e sem objetos interativos é um terreno fértil para o desenvolvimento de comportamentos problemáticos. Isso é ainda mais acentuado em animais que vivem em apartamentos pequenos, com janelas fechadas, sem brinquedos, sem rotina de atividades físicas e sem desafios mentais.

Tanto cães quanto gatos precisam de um ambiente rico, onde possam expressar seus instintos com segurança. Um cão que não passeia está sujeito a um acúmulo insuportável de energia. Um gato que não tem prateleiras, arranhadores ou lugares para se esconder viverá em estado constante de frustração. E o resultado disso aparece nas almofadas destruídas, nos móveis arranhados ou no comportamento de agitação constante.

O papel da rotina

Outro ponto frequentemente negligenciado pelos tutores é a previsibilidade. Animais domésticos prosperam em rotinas estáveis. Saber quando vão comer, passear, brincar ou descansar oferece segurança emocional e diminui comportamentos reativos. Cães e gatos que vivem em um ambiente caótico, sem horários definidos, estão mais propensos à ansiedade — e, como consequência, à destruição.

Imagine um cão que acorda todos os dias sem saber se terá comida, se será levado para passear ou se ficará o dia inteiro sozinho. A instabilidade faz com que o animal desenvolva uma espécie de tensão interna, que é liberada de alguma forma — e quase sempre isso acontece na forma de latidos, roeduras ou destruição.

Com gatos, o raciocínio é parecido. Gatos gostam de previsibilidade. Eles sabem a hora em que você acorda, a hora em que come, os seus passos pela casa. Quando algo sai do normal — uma mudança de móveis, uma nova pessoa na casa, um barulho diferente —, muitos deles reagem com comportamentos aparentemente estranhos, como miar demais, arranhar compulsivamente ou ficar agressivos. É uma tentativa de reorganizar o controle sobre o território.

Quando o problema é emocional

Muitos casos de destruição estão diretamente ligados a desequilíbrios emocionais. Cães que ficam sozinhos por longos períodos sem companhia ou estímulo podem desenvolver ansiedade de separação. Essa condição leva o animal a entrar em pânico quando o tutor sai, resultando em comportamentos como destruir portas, rasgar roupas, cavar o chão ou latir por horas.

Gatos também sentem ausência, embora se manifestem de forma diferente. Em vez de latidos ou choros, o gato pode demonstrar seu desconforto se isolando, deixando de comer, arranhando compulsivamente ou urinando fora da caixa de areia. Esses sinais devem ser observados com atenção, pois indicam que o animal está tentando lidar com emoções difíceis — e, como não pode falar, usa o corpo e o ambiente para comunicar.

O que não fazer

O erro mais comum é punir o animal. Bater, gritar, esfregar o focinho no objeto danificado ou privá-lo de carinho não resolve o problema. Pelo contrário, aumenta o estresse, o medo e a insegurança. Além disso, o animal não associa a punição ao comportamento anterior. Ele apenas entende que algo ruim aconteceu e que você está bravo — o que pode gerar mais confusão emocional.

Outro erro frequente é retirar o objeto destruído sem apresentar uma alternativa. Se o cão destruiu o chinelo, o que foi colocado no lugar para ele morder? Se o gato arranhou o sofá, onde está o arranhador acessível, estável e atrativo para que ele possa arranhar? Sem substituição e redirecionamento, o problema vai apenas mudar de lugar.

Como agir com eficácia

A solução passa por um tripé: observação, adaptação e estímulo. Observar o comportamento do pet é o primeiro passo. Quando a destruição acontece? Sempre no mesmo horário? Após sua saída de casa? Em determinados ambientes? Essas respostas ajudam a identificar se a causa é tédio, ansiedade, frustração territorial ou falta de socialização.

Adaptar o ambiente é o passo seguinte. Para cães, isso significa enriquecer o espaço com brinquedos que possam morder, esconderijos de petiscos, texturas diferentes e acesso visual ao ambiente externo. Para gatos, significa criar ambientes verticais, oferecer brinquedos de caça, reorganizar os móveis de forma a garantir rotas seguras e silenciosas e disponibilizar arranhadores funcionais.

Por fim, é essencial que o pet receba estímulo adequado à sua espécie. Cães precisam de passeios diários, tempo com o tutor, comandos básicos e desafios que envolvam o faro. Gatos precisam de brincadeiras que imitem a caça, horários de alimentação regrada, esconderijos e objetos que estimulem sua inteligência natural.

Em que momento buscar ajuda profissional?

Se mesmo após todas essas medidas o comportamento destrutivo persistir, pode ser necessário recorrer a um adestrador com abordagem positiva ou a um veterinário comportamentalista. Eles podem ajudar a avaliar causas mais profundas — inclusive médicas, como dores crônicas ou disfunções hormonais — e criar um plano de reeducação individualizado.

Alguns animais podem se beneficiar de tratamentos complementares, como feromônios sintéticos, musicoterapia, homeopatia ou até, em casos mais graves, de medicação sob prescrição. O importante é entender que o problema não é o pet, mas o contexto. E quando o tutor se compromete a entender esse contexto, tudo muda.

Dicas essenciais para prevenir e reduzir o comportamento destrutivo:

  • Ofereça atividades físicas diárias adequadas à espécie e energia do animal
  • Enriquecer o ambiente com brinquedos interativos, esconderijos e desafios
  • Criar uma rotina estável para alimentação, brincadeira, passeio e descanso
  • Redirecionar o comportamento destrutivo para objetos adequados (mordedores, arranhadores)
  • Evitar qualquer tipo de punição física ou emocional
  • Estimular a independência emocional, especialmente em cães ansiosos
  • Observar mudanças no comportamento que possam indicar estresse ou dor
  • Buscar apoio profissional quando o problema for recorrente ou intenso

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *