Dicas de 4 patas

Como evitar que seu pet roa móveis e objetos da casa

Roer móveis, chinelos ou objetos é um dos comportamentos mais comuns entre filhotes de cães e gatos — e também um dos mais frustrantes para os tutores. Apesar de parecer apenas uma travessura, esse hábito pode ter diversas causas, como tédio, ansiedade, dor na dentição ou falta de direcionamento adequado. Ao invés de simplesmente repreender, é preciso compreender a origem do comportamento e agir com inteligência para redirecioná-lo.

Um pet que rói tudo não está “fazendo birra”. Ele está tentando lidar com uma necessidade real, mesmo que de forma inadequada. Seja para aliviar desconfortos físicos, liberar energia acumulada ou chamar atenção, o ato de morder e destruir objetos tem uma função emocional ou fisiológica. Quando o tutor ignora isso e apenas reage com broncas, o problema tende a se repetir — ou piorar.

Este artigo mostra, com profundidade, como lidar com o comportamento destrutivo de forma construtiva, preventiva e respeitosa. A meta é transformar esse hábito em uma oportunidade de educação e fortalecimento do vínculo com o animal.

O instinto de roer: o que está por trás

Tanto cães quanto gatos possuem fases da vida em que a vontade de morder, arranhar ou manipular objetos com a boca é mais intensa. No caso dos cães, os filhotes passam pela troca de dentes entre os 3 e 7 meses de idade. Nesse período, as gengivas ficam sensíveis, coçam, e o animal busca objetos para aliviar o desconforto.

Mesmo depois da troca dentária, o ato de roer permanece como forma de conhecer o ambiente. Cães exploram o mundo com a boca. Eles mordem para testar texturas, aprender o que pode ou não ser ingerido e até se autorregular emocionalmente.

Nos gatos, o comportamento é mais voltado ao instinto de caça. Eles também roem ou arranham para afiar as garras, demarcar território ou liberar tensão acumulada. Embora menos destrutivos que os cães nesse aspecto, os gatos também podem morder móveis, fios e objetos plásticos, especialmente quando estão entediados ou sem estímulos.

Roer é, portanto, uma necessidade natural. O problema ocorre quando ela é canalizada para objetos impróprios, gerando frustração no tutor e, em casos mais graves, riscos à saúde do animal (como ingestão de pedaços de tecido, madeira ou plástico).

Tédio e falta de estímulo: vilões silenciosos

A principal causa de destruição dentro de casa é a falta de estímulo físico e mental. Um pet que passa o dia sozinho, sem atividade, sem variação de ambiente ou sem interação significativa, acumula energia. E essa energia, uma hora, precisa sair. Se o tutor não propõe um caminho, o animal encontra o seu — e roer objetos é um dos mais comuns.

Para o cão, morder o pé da mesa pode ser tão instigante quanto um brinquedo, se ele estiver entediado. Para o gato, roer uma sacola plástica pode ser a única “aventura” do dia. A repetição dessas ações gera uma trilha de hábito: o animal aprende que aquele comportamento gera alívio, prazer ou, ao menos, distração. E passa a repeti-lo.

Ambientes pobres em estímulos, silenciosos demais, sem variação de objetos, cheiros e texturas, incentivam o comportamento destrutivo. O mesmo vale para tutores ausentes ou que interagem sempre do mesmo jeito, no mesmo horário. A monotonia, para um pet jovem e curioso, é um gatilho de frustração.

Ansiedade e busca por atenção

Outra motivação comum para roer objetos é a ansiedade. Alguns cães, especialmente os mais sensíveis ou que vivem com pouca previsibilidade, desenvolvem comportamentos compulsivos como forma de lidar com o estresse. Ficar sozinho por muito tempo, ouvir barulhos desconhecidos, lidar com mudanças repentinas ou não entender comandos pode gerar insegurança — que o animal tenta aliviar mordendo algo.

Além disso, muitos pets aprendem que roer chama atenção. Um cão que rói o controle remoto e vê o tutor correr até ele, gritar ou puxar o objeto, pode interpretar essa ação como uma forma de “conversar”. Mesmo que a resposta seja negativa, ela ainda é uma resposta. E para um pet carente, qualquer interação é melhor que o silêncio.

Gatos também podem desenvolver esse tipo de comportamento por ansiedade, principalmente se não têm território definido, arranhadores adequados ou tempo de interação diária com o tutor.

Como redirecionar o comportamento de forma eficaz

O caminho para corrigir o comportamento de roer objetos não passa pela punição — passa pela substituição inteligente. O tutor deve oferecer alternativas melhores, mais prazerosas e acessíveis. E isso exige consistência.

A primeira atitude é retirar o acesso aos objetos perigosos ou valiosos, pelo menos durante a fase de aprendizado. Esconder cabos, guardar sapatos, proteger os pés dos móveis com barreiras físicas temporárias. Ao mesmo tempo, o tutor precisa introduzir brinquedos mordíveis, com texturas variadas, aromas e formatos diferentes.

Os brinquedos recheáveis, como os de borracha resistente com espaço interno para petiscos, são excelentes para manter o pet ocupado e associar a mastigação a algo positivo. Congelar esses brinquedos com recheio úmido também ajuda a acalmar cães mais agitados ou filhotes com dor na gengiva.

Sempre que o pet começar a roer um objeto inadequado, o tutor deve interromper com calma, sem gritar, e direcionar para o brinquedo certo. Ao ver o pet interagindo com o item correto, é hora de elogiar, oferecer petisco e interagir de forma positiva. Com o tempo, o animal entende o que é permitido e o que não é.

Estratégias específicas para gatos

No caso dos gatos, além de brinquedos seguros, é fundamental ter arranhadores de diferentes tipos espalhados pela casa. Arranhadores verticais, horizontais, com corda, papelão ou madeira, devem estar em locais de passagem, pois é onde os gatos gostam de marcar território.

Plantas específicas como erva-do-gato (catnip) ou valeriana podem ser usadas nos brinquedos para estimular a curiosidade. Fontes de água corrente, brinquedos com penas e estruturas verticais (como prateleiras e nichos) ajudam a criar um ambiente onde o gato não precise recorrer a objetos impróprios para se distrair.

Gatos que roem sacolas, fios ou elásticos devem ter esses itens removidos do ambiente, e a casa precisa ser enriquecida com opções mais interessantes. Quanto mais opções adequadas o gato tiver, menos ele buscará alternativas perigosas.

A importância do gasto de energia

Cães que passeiam diariamente, brincam ao ar livre, treinam comandos e interagem com pessoas e outros animais tendem a roer menos. O gasto de energia física e mental é um dos principais fatores para prevenir comportamentos destrutivos.

Mesmo em dias de chuva ou em ambientes pequenos, é possível oferecer enriquecimento ambiental: esconder petiscos pela casa, criar circuitos com almofadas, praticar comandos simples (como “senta”, “fica”, “dá a pata”), introduzir novos brinquedos ou fazer sessões curtas de massagem relaxante.

Gatos também precisam de estímulo. Embora muitos sejam mais independentes, a falta de atividade pode gerar estresse e letargia. Brincadeiras de caça com varinhas, esconderijos, troca de brinquedos e janelas protegidas para observação ajudam a manter o felino ativo e mentalmente satisfeito.

Quando procurar ajuda especializada

Se mesmo com mudanças no ambiente e estratégias consistentes o pet continua roendo tudo compulsivamente, é hora de procurar ajuda profissional. Em alguns casos, o comportamento pode estar ligado a transtornos compulsivos, ansiedade severa ou falta de socialização.

Adestradores com abordagem positiva, especialistas em comportamento animal ou veterinários com formação em etologia são os profissionais indicados para investigar a fundo o que está por trás do problema e propor um plano de ação personalizado.

Ninguém deve conviver com destruição constante nem viver em conflito com o próprio pet. O que parece um comportamento desobediente geralmente é apenas uma forma desesperada de comunicação.

Quando o tutor aprende a escutar o que está por trás da destruição — e age com clareza, paciência e respeito — a casa volta a ser um ambiente de equilíbrio. E o pet, em vez de um “problema”, se revela aquilo que sempre foi: um ser sensível, cheio de energia, que só precisava de um caminho melhor para expressar tudo isso.

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