Dicas de 4 patas

Como acostumar cães e gatos ao uso de escova de dentes

A saúde bucal dos pets é um dos aspectos mais negligenciados na rotina de cuidados domésticos. Muitos tutores não percebem que o acúmulo de placa bacteriana, o tártaro, o mau hálito e até doenças mais graves, como infecções sistêmicas, podem começar pela boca. E a escovação é, sem dúvida, o método mais eficaz de prevenção.

Apesar disso, escovar os dentes de cães e gatos ainda é visto como uma tarefa difícil ou até impossível. A verdade é que, quando feito com paciência, respeito ao ritmo do animal e técnicas adequadas, esse cuidado pode ser incorporado de forma natural à rotina.

Por que escovar os dentes dos pets é tão importante?

A boca dos animais abriga uma grande quantidade de bactérias. Sem a higiene adequada, essas bactérias se acumulam na gengiva, provocando inflamações como a gengivite, que pode evoluir para a doença periodontal — condição grave que, além da dor e perda dentária, pode afetar órgãos como o coração, fígado e rins.

O mau hálito, muitas vezes tratado como algo “normal” nos pets, é na verdade um dos primeiros sinais de que algo está errado. Ao escovar os dentes do seu cão ou gato, o tutor remove resíduos de alimentos, controla a placa bacteriana e contribui diretamente para a saúde sistêmica do animal.

Mais do que um cuidado estético ou pontual, a escovação regular é um investimento em qualidade de vida a longo prazo.

A resistência inicial é normal — mas pode ser superada

Cães e gatos, em geral, não estão acostumados a ter a boca manipulada. Quando o tutor tenta escovar os dentes de forma repentina, a reação natural é de estranhamento ou resistência. Isso não significa que o animal nunca irá aceitar esse cuidado, mas sim que ele precisa de tempo para se familiarizar com a experiência.

O segredo está em fazer da escovação um processo gradual e positivo. Isso começa muito antes de usar a escova: o primeiro passo é permitir que o animal se acostume com o toque no focinho, nos lábios e na gengiva. Depois, vem a apresentação da escova, da pasta específica e, por fim, da escovação propriamente dita.

Forçar o processo ou torná-lo uma experiência tensa só gera associações negativas. A chave está na paciência e na repetição diária de pequenos estímulos agradáveis.

Como iniciar o processo de adaptação

Nos primeiros dias, o tutor pode simplesmente tocar levemente o focinho e levantar os lábios do animal, enquanto conversa em tom calmo e oferece petiscos como recompensa. Essa etapa é fundamental para construir confiança.

Após isso, é possível usar o dedo envolto em gaze ou uma dedeira para massagear as gengivas e simular a escovação. A ideia aqui não é limpar completamente os dentes, mas ajudar o pet a se acostumar com o toque e o movimento circular.

Só depois dessas etapas — que podem levar dias ou até semanas, dependendo do perfil do animal — é hora de introduzir a escova de dentes própria para pets. A pasta deve ser específica para cães ou gatos, com sabores agradáveis (como frango, carne ou peixe) e que não contenha flúor, já que essa substância é tóxica para eles.

A escovação propriamente dita deve durar poucos minutos e, no início, pode se concentrar apenas nos dentes da frente ou de um lado da boca. O mais importante é terminar sempre com elogios e recompensas.

Existe diferença entre escovar cães e gatos?

Sim. Embora o princípio seja o mesmo, gatos tendem a ser mais sensíveis à manipulação e têm menos tolerância ao toque prolongado. Por isso, o tutor de gatos deve ter ainda mais delicadeza e respeitar os sinais de limite do animal.

Com os gatos, muitas vezes é mais eficiente fazer sessões curtas e frequentes, de poucos segundos, ao invés de tentar escovar toda a boca de uma vez. Outro detalhe importante é o ambiente: o gato precisa estar em um local silencioso, confortável e livre de distrações.

Já os cães, dependendo da raça e da personalidade, podem aceitar sessões mais longas, especialmente se forem acostumados desde filhotes. No entanto, também é importante respeitar seus sinais de desconforto e evitar qualquer tipo de contenção forçada.

Quantas vezes por semana escovar?

O ideal é escovar os dentes do pet todos os dias. No entanto, sabemos que essa frequência nem sempre é possível no início. Por isso, recomenda-se começar com três vezes por semana e ir aumentando gradualmente.

Quanto mais regular for a escovação, mais fácil será para o animal aceitar o processo. Além disso, a escovação frequente é mais eficaz na prevenção do tártaro, pois impede que a placa se solidifique.

Outros cuidados complementares, como brinquedos específicos para limpeza dental, petiscos dentais e soluções antissépticas recomendadas por veterinários, podem ajudar — mas nunca substituem a escovação.

O que evitar durante o processo

Um erro comum é tentar escovar os dentes do animal à força. Isso quebra o vínculo de confiança e transforma a experiência em algo traumático. Gritar, prender ou conter fisicamente o pet nunca deve ser uma opção.

Outro equívoco é usar escovas e pastas humanas. Os componentes presentes nesses produtos podem causar intoxicações, além de não serem eficazes para as necessidades dos pets.

Tentar escovar os dentes logo após o animal se alimentar ou quando ele está cansado ou agitado também dificulta a aceitação. O melhor momento é quando o pet está calmo, receptivo e com o tutor disponível emocionalmente para conduzir o processo com paciência.

Quando procurar ajuda profissional

Se, mesmo após tentativas consistentes, o pet não aceita a escovação ou demonstra sinais intensos de desconforto, pode ser necessário buscar orientação de um profissional. Médicos veterinários especializados em odontologia veterinária podem fazer limpezas profundas, avaliar a saúde bucal e orientar sobre alternativas de cuidado.

Em alguns casos, o apoio de um adestrador com abordagem positiva ajuda a criar associações mais agradáveis com a escovação, especialmente em pets com histórico de trauma ou manipulação inadequada.

A prevenção sempre será mais eficiente — e menos custosa — do que o tratamento de doenças bucais avançadas, que muitas vezes exigem anestesia geral, extrações dentárias e longos períodos de recuperação.

Conclusão

Acostumar cães e gatos ao uso da escova de dentes é uma das atitudes mais valiosas que um tutor pode adotar para preservar a saúde do pet. Não se trata apenas de evitar mau hálito, mas de proteger o organismo como um todo.

Com paciência, respeito ao tempo do animal e técnicas adequadas, esse cuidado pode se tornar um momento de vínculo e confiança entre tutor e pet. E, com o tempo, o que parecia impossível vira parte natural da rotina.

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