Como lidar com pets que têm medo de barulhos altos (fogos, trovões, obras)
A sensibilidade aos sons altos é um comportamento comum entre cães e gatos. Fogos de artifício, trovões, aspiradores, obras na rua e até mesmo portas batendo podem desencadear uma reação intensa de medo em muitos animais domésticos. Embora cada pet tenha seu próprio nível de tolerância, o som elevado, repentino e vibrante costuma ser interpretado como uma ameaça, provocando desde tremores e tentativas de fuga até reações mais graves, como automutilação e taquicardia.
Para os tutores, presenciar essas reações pode ser angustiante. Ver o pet ofegante, escondido, latindo ou miando em desespero, sem saber como ajudá-lo, é uma das experiências mais frustrantes na convivência com animais sensíveis ao som. E, infelizmente, situações como as festas de fim de ano, as chuvas de verão ou reformas no prédio costumam acontecer sem que o tutor tenha controle.
Por isso, entender o que está por trás do medo de barulhos altos e aprender a lidar com ele da forma mais empática e preventiva possível é essencial para o bem-estar do animal e a tranquilidade da casa.
Por que os pets têm medo de sons altos?
Cães e gatos possuem uma audição muito mais sensível que a dos humanos. Os cães ouvem sons em frequências que nós não percebemos, e os gatos são ainda mais apurados — captam sons agudos até 60 kHz, enquanto nós só escutamos até 20 kHz. Isso significa que ruídos que para nós são suportáveis, para eles podem ser ensurdecedores e assustadores.
Além disso, muitos desses sons ocorrem de forma repentina e sem um contexto claro. Fogos estouram do nada, trovões vêm com vibrações no chão e no ar, obras produzem batidas contínuas e imprevisíveis. Para o animal, isso é interpretado como uma ameaça incontrolável.
Em alguns casos, o medo é intensificado por experiências negativas no passado: o pet que ficou sozinho durante uma tempestade, o cão que associou fogos com a ausência do tutor, ou o gato que se feriu ao tentar fugir de um barulho alto.
Como o medo se manifesta
Cada pet reage de um jeito. Alguns sinais são sutis e passam despercebidos por tutores desatentos. Outros são mais evidentes e causam impacto na rotina da casa.
Os sinais mais comuns incluem:
- Tremores;
- Pupilas dilatadas;
- Hiper-salivação;
- Esconderijos constantes;
- Tentativas de fuga (escapar pela porta ou janela);
- Arranhões nas portas ou móveis;
- Vocalizações intensas (latidos, miados, uivos);
- Respiração ofegante;
- Comportamento destrutivo;
- Recusa de alimento ou água;
- Xixi fora do lugar;
- Comportamentos compulsivos (lamber-se demais, girar em círculos).
Esses sinais são manifestações reais de pânico. Não são “manha” ou “teimosia”, e devem ser tratados com empatia e acolhimento.
O que fazer durante uma crise de barulhos
Quando o barulho já está acontecendo (como uma tempestade ou show pirotécnico), o mais importante é garantir segurança e acolhimento ao pet. Veja algumas estratégias eficazes:
Crie um refúgio seguro: Escolha um cômodo da casa onde o barulho externo seja mais abafado — como o banheiro, o closet ou um quarto com cortinas e cobertores. Coloque a caminha, brinquedos e água ali, e deixe o pet se esconder se quiser. Gatos gostam de tocas elevadas, como prateleiras ou caixas no alto.
Reduza os estímulos externos: Feche portas e janelas, baixe as persianas e ligue um som ambiente (como música calma ou TV) para tentar disfarçar os sons externos.
Fique por perto: A sua presença é fundamental. Sente-se próximo, fale com voz suave, acaricie o pet se ele permitir. A ideia não é forçar o contato, mas mostrar que ele não está sozinho.
Evite punir ou ignorar: Brigar com o pet por estar com medo só piora a ansiedade. Também não é verdade que confortá-lo “reforça o medo” — o medo não é aprendido, é instintivo. O carinho é acolhimento, não recompensa.
Distrair com atividades prazerosas: Em alguns casos, brinquedos recheáveis, petiscos ou sessões de treino ajudam a desviar o foco do som. Mas isso depende do grau de estresse. Para alguns animais, nem comida interessa nesses momentos.
Estratégias de prevenção a longo prazo
Além de saber o que fazer durante os barulhos, o ideal é trabalhar prevenção e dessensibilização com calma ao longo do tempo, especialmente se o pet tem crises frequentes.
Treinamento com sons gravados: Há áudios de trovões e fogos em volume baixo disponíveis na internet. A ideia é expor o pet a esses sons em volume mínimo e associar a momentos positivos (como brincadeiras ou recompensas). Gradualmente, o volume é aumentado, de forma controlada, até que o pet reaja com mais naturalidade.
Reforço positivo contínuo: Sempre que o pet se mostrar calmo durante sons do cotidiano (como uma moto passando ou uma porta batendo), elogie, recompense e valorize esse comportamento.
Adestramento com reforço positivo: Trabalhar comandos de foco e confiança com ajuda de um adestrador pode ajudar o pet a se sentir mais seguro e a confiar no tutor mesmo em situações desafiadoras.
Enriquecimento ambiental constante: Um pet entediado ou subestimulado tem níveis mais altos de estresse acumulado, o que aumenta a sensibilidade a estímulos. Ofereça desafios diários com brinquedos, brincadeiras e interação.
Avaliação com veterinário comportamentalista: Em casos mais graves, o medo de barulho pode evoluir para fobia. Nesses casos, pode ser necessário o uso de medicação, que só deve ser prescrita por profissional especializado.
Produtos que podem ajudar
Hoje existem diversos produtos desenvolvidos para ajudar pets sensíveis ao som. Nenhum deles é solução mágica, mas podem funcionar como parte de um plano mais amplo:
- Coleiras calmantes (com feromônio ou extratos naturais);
- Difusores de feromônio sintético (como Feliway e Adaptil);
- Roupas de compressão, como a Thundershirt, que aplicam leve pressão no corpo e promovem sensação de segurança;
- Suplementos naturais com efeito ansiolítico leve, indicados por veterinários.
Jamais ofereça medicamentos humanos ou sedativos por conta própria. O risco de intoxicação é alto e os efeitos colaterais podem ser graves.
Como lidar em datas comemorativas
É comum que pets entrem em pânico nas noites de Natal, Ano Novo, festas juninas e jogos de futebol com fogos. Para reduzir os danos, planeje com antecedência:
- Não deixe o pet sozinho em casa nessas datas;
- Crie o ambiente seguro com antecedência;
- Dê passeios e atividades físicas no início do dia, para que ele esteja mais calmo à noite;
- Ofereça refeições com mais tempo de digestão antes dos barulhos;
- Se necessário, já tenha a medicação ou produto calmante previamente indicado pelo veterinário.
Se o pet já passou por traumas em anos anteriores, converse com o profissional sobre uso preventivo de terapia comportamental ou farmacológica leve.
A importância da empatia
Lidar com o medo de barulhos exige do tutor um olhar atento, acolhedor e paciente. O pet não está “fazendo drama”, não está sendo “fresco” — ele está reagindo instintivamente a algo que o cérebro interpreta como ameaça.
A nossa função é construir um ambiente onde ele se sinta protegido, compreendido e, aos poucos, mais confiante. Com a abordagem certa, muitos cães e gatos conseguem reduzir significativamente suas reações e viver com mais qualidade de vida, mesmo em meio ao barulho do mundo humano.